O escudo do Corinthians sempre causou fascínio entre os torcedores Corinthianos. O primeiro distintivo surgiu em 1913. Ainda rústico, ostentava apenas um "C" e um "P" sobrepostos, bordados às pressas nas camisas dos jogadores, para disputar uma vaga na Liga Paulista de Futebol. O emblema lembrava as linhas de um coração. A partir daí, o distintivo passou por modificações até a incorporação da âncora e dos dois remos ao escudo do Timão, em 1927.
O saudoso Lourenço Diaféria, autor do livro Coração Corinthiano, da série Grandes Clubes do Futebol Brasileiro e seus Maiores Ídolos, publicado pela Fundação Nestlé de Cultura, conta bem essa história. As cores vermelhas estão nos remos e na âncora, e o círculo do escudo se transformou em uma boia estilizada. Os primeiros remos eram mais longos que os atuais. Aos poucos foram se harmonizando esteticamente ao conjunto, até chegarem ao que é hoje.
A âncora e os remos surgiram a partir da compra de uma enorme gleba de terras, na Zona Leste da capital paulista, em 1926, que determinou a transferência do Clube do Bom Retiro para as margens do Rio Tietê. A partir da mudança geográfica, o Corinthians descobre o prazer e a glória das regatas. São nessas águas que várias gerações aprenderam a nadar e a se tornar grandes campeões.
O português Antônio Ferreira de Souza, vulgo Scafanhask, sócio nº 10, que deu, de seu bolso, 10 contos de réis para ajudar na compra da Fazendinha - apelido carinhoso dado pelos associados às novas e distantes terras -, homem ligado ao grupo de Ernesto Cassano, Costa Mano, Sá Ferros e Floresto Bandechi. Dizem ser ele quem fez a primeira pintura do Parque São Jorge e é apontado como um dos elementos que criou os remos e a âncora do estudo Corinthiano.
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O papel timbrado do clube contempla o distintivo com os remos e a âncora. O documento na sua íntegra traz a escalação dos jogadores para uma partida do campeonato da laf (liga de amadores de futebol)
A arte final do distintivo foi feita por Francisco Rebollo Gonzalez, em 1926. No entanto, sua relação com o Corinthians começou cedo. Ainda garoto, levava marmita para o irmão José, pintor de paredes e amigo de Antônio Pereira, um dos cinco operários fundadores do clube do Bom Retiro. De família de imigrantes espanhóis, Rebollo nasceu perto do Parque Dom Pedro II, onde Charles William Miller fizera rolar a primeira bola de futebol. Começou a trabalhar com apenas 12 anos. Um ano depois, em 1915, passou a ser aprendiz de decorador, pintando detalhes das igrejas de Santa Cecília e de Santa Ifigênia. Ao realizar um serviço no Colégio Dante Alighieri, observou os alunos jogando bola. Gostou tanto do que viu que decidiu fazer o mesmo. Em 1917, já tinha contrato como semiprofissional com a Associação Athletica São Bento.
Antônio Pereira, que era seu amigo e gostava do seu jogo, convidou Rebollo para jogar no Corinthians, o que aconteceu em 1922. Rebollo jogou na ponta-direita do Campeão Centenário, permanecendo no Clube até 1927. Tornou-se Corinthiano de coração e dá umas das primeiras provas de sua vocação artística: faz do distintivo do Corinthians uma alegre e popular joia gráfica. Mais tarde, Rebollo se tornou um pintor modernista, inclusive pintando um quadro especialmente para ser rifado e, assim, reunir recursos para o Corinthians.
Levou alguns anos até que o novo escudo passasse a figurar integralmente na camisa dos jogadores corinthianos. O novo e definitivo escudo assume seu lugar paulatinamente na camisa, mas já estava havia muito tempo nos muros do Clube e no coração dos torcedores. Um exemplo disso está em um documento do Clube, datado de 26 de junho de 1927, o qual mostra que o emblema já fazia parte do papel timbrado do Corinthians.
"A âncora é o símbolo da esperança. Os remos somos nós, os torcedores corinthianos. Por que o torcedor corinthiano não tem pressa. Pode ficar 20 anos na espera. Nossa esperança é de aço, nossa esperança é eterna. O torcedor Corinthiano não cansa, sempre rema, a favor ou contra a corrente, jamais abandona o barco. É nisso que ele é melhor, é nisso que ele é valente. No distintivo do Corinthians há também a bandeira. Olhe bem, a bandeira está aberta. O torcedor Corinthiano tem tanta esperança, e rema tanto, que jamais enrola a bandeira, enquanto a bola rola em campo. Por que o torcedor Corinthiano sabe que se a bola tem coração, na hora da decisão, ela também é Corinthiana."
Antônio Fagundes, na tv Globo, após a conquista do Título de campeão Paulista de 1988.
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